Há pornocracia para todos os gostos, e por certo o bom gosto e o bom senso de uns não devem interferir na liberdade de outros. Enquanto a frase "o que hão de pensar" soar pelos cantos de um recinto público, haverá quem confunda aprender com apreender ou mesmo repreender. A liberdade é nata, a sensatez um dom e a estupidez recorrente um atraso.
Cai a noite de domingo sobre Matosinhos. De um dia de sol a caminho da primavera, com o mar ao fundo, toma conta desta Quinta Seca o silêncio. Alguns carros, o helicóptero do Pedro Hispano, os galos e o ferro dos trilhos do Metro quebram periodicamente a sinfonia temperada do teclado do computador e do som que soa como um zumbido. Há muito não escuto noites tropicais, de silêncio acompanhado pela música dos grilos. Este zumbido da noite lembra-me os grilos, mas sei que é apenas sugestão do pensamento. Escolhi a Quinta Seca há quase dois anos, um oásis no meio da cidade que me apaga a sede de silêncio, como um Bairro Peixoto da Senhora da Hora. Tenho sede desta Quinta Seca, tal como tenho sede do Bairro Peixoto. Embalo a rede, não posso parar, tamanha a sede.
Este é o gato de botas… não o fiel amigo do ogro Shrek, mas o de Charles Perrault, que acaba por comer o ogro traformado em rato… O pai gosta de contar a história à filha, e esta conta a sua história ao pai. No rosto que se esconde há histórias que o pai não sabe contar.