Parece luz o que a voz não esconde. O senhor Cunha debruça-se sobre a janela e chama:
- Ó Luz, onde estás?
- Estou aqui, Zé.
O senhor Cunha sorri e o que parece apenas luz ilumina-lhe a voz:
- Anda para dentro que já é tarde. É tempo de acender as velas.
Maria da Luz corre para dentro de casa e vê o marido a colocar-lhe as velas sobre o bolo de aniversário. Os dois sentam, cantam e abraçam-se. A luz das velas desaparecem em fumaça com o sopro de Luz. Qual luz? Os olhos do senhor Cunha parecem brilhar como berlindes de criança. Seu sorriso fala tanto que só apetece à Luz continuar abraçada a ele e é o que faz até fazer-se noite cerrada.
Quando deitaram não se escutava nada lá fora, deixaram a louça por lavar, foram de mão dadas para a cama e dormiram a sorrir, como a sonhar com nuvens brancas, cheias de luz, Luz de uma vida.