Enquanto hoje na SIC eram apresentados os presumíveis custos do lento e complexo julgamento Casa Pia, lembrei-me do meu avô materno a ver a SIC há uns 7 anos atrás, numa cama de hospital. Na altura fitava incrédulo um dos actualmente arguidos no processo, fazendo um gesto como de uma arma à cabeça, passando-nos a mensagem de que quem comete um crime tão horrendo como a pedofilia, o desrespeito máximo ao que jamais poderia ser desrespeitado, merecia algo mais do que um julgamento e consequente prisão. O escândalo começava em finais de 2002, quando meu avô já não falava, mas a incredulidade do seu olhar e seu gesto em resposta à notícia eram mais do que palavras. Neste mesmo ano casei-me e na volta da lua-de mel ainda pude ver seus olhos incrédulos, a possível resposta à rapidez com que a doença retirou-lhe possibilidades. Este vazio que por vezes sinto da falta tão presente que ele deixou-me é só comparável à nostalgia que a canção Motorcycle emptiness me desperta.
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