segunda-feira, 12 de maio de 2008

Verde

Por entre folhas a correr, entre galhos, da janela do autocarro, de volta para o Porto, lá está a casa branca.  Uma casa branca, simplesmente, iluminada pelo sol que atravessa as nuvens que insistem no céu.  Deixo para trás avós paternos e a mãe da minha mãe.  Minha avó materna só sente a solidão, relembra o passado, diz ver as filhas vestidas para ir à escola, lembra-se dos tempos em que todos estavam reunidos na casa durante as férias.  Ela quer saúde para os netos, e reza com os olhos brilhantes de emoção, correndo o terço entre os dedos cansados.  Os outros avós parecem ter esquecido este passado, pelo menos parecem.  Ele lembra quando a casa ainda só tinha pedra e precisava da madeira para continuar seu esforço.  Tem os pés inchados, o passado foi esquecido, mas prefiro não falar sobre isso, apenas sofro com ele.  Volto a olhar a casa branca, iluminada entre o verde das folhas, corridas pelas curvas apressadas do autocarro.  Vejo alguma esperança nos espaços vagos, como se precisasse afastar as folhas para perceber o futuro.  Espero que as nuvens dissipem, não as de chuva, mas as da alma.

2 comentários:

Tuki disse...

Podemos escrever o futuro desde já, nas linhas do presente. Fazê-lo não cinzento - como os dias sem cor de quem vive apenas de antigas de memórias ou de quem sequer as pode ou quer rememorar -, mas branco entre verde, como nas cores entrevistas daquela casa - branco, cor que reúne todas as cores, e verde, significativamente cor de esperança. Queres continuar a construir comigo, conosco, esta cor-tempo?

Antonio Soares disse...

Sim, sempre é tempo para reconstruir.