Por entre folhas a correr, entre galhos, da janela do autocarro, de volta para o Porto, lá está a casa branca. Uma casa branca, simplesmente, iluminada pelo sol que atravessa as nuvens que insistem no céu. Deixo para trás avós paternos e a mãe da minha mãe. Minha avó materna só sente a solidão, relembra o passado, diz ver as filhas vestidas para ir à escola, lembra-se dos tempos em que todos estavam reunidos na casa durante as férias. Ela quer saúde para os netos, e reza com os olhos brilhantes de emoção, correndo o terço entre os dedos cansados. Os outros avós parecem ter esquecido este passado, pelo menos parecem. Ele lembra quando a casa ainda só tinha pedra e precisava da madeira para continuar seu esforço. Tem os pés inchados, o passado foi esquecido, mas prefiro não falar sobre isso, apenas sofro com ele. Volto a olhar a casa branca, iluminada entre o verde das folhas, corridas pelas curvas apressadas do autocarro. Vejo alguma esperança nos espaços vagos, como se precisasse afastar as folhas para perceber o futuro. Espero que as nuvens dissipem, não as de chuva, mas as da alma.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
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2 comentários:
Podemos escrever o futuro desde já, nas linhas do presente. Fazê-lo não cinzento - como os dias sem cor de quem vive apenas de antigas de memórias ou de quem sequer as pode ou quer rememorar -, mas branco entre verde, como nas cores entrevistas daquela casa - branco, cor que reúne todas as cores, e verde, significativamente cor de esperança. Queres continuar a construir comigo, conosco, esta cor-tempo?
Sim, sempre é tempo para reconstruir.
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