Acho que nunca escrevi sobre meu avô. Sim, usei as palavras para lembrá-lo, por ele, por nós, mas não sobre o que sempre senti. A presença ausente na casa que foi sua, na placa de lousa que marcou tão bem os 50 anos de casados, nos escritos no papel de parede, na preocupação com as infra e macroestruturas do lar. A casa. Ele está lá em cada canto, fazendo-se passar por memórias que brotam dos objectos. Tudo extravaza, ultrapassa a capacidade de armazenamento e nasce das coisas. A sua vida depois da matéria, não para ele, mas para nós que cá ficamos a observar as estrelas, não cabe em si. Percorre então cada pedaço do que plantou e floresce, como um rosto ausente que sorri com a chegada da primavera.
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1 comentário:
Talvez possamos reunir textos lindos como esse, e organizar, juntos, o Livro em memória dele. Esta é a casa que sonhou erguer.
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